A mulher incrível que você não enxerga
- Fernanda Gregório Fonseca

- 9 de jul.
- 3 min de leitura
Depois de falar sobre o cansaço que o corpo carrega quando a alma silencia, talvez agora seja o momento de olhar para algo ainda mais invisível: a forma como você se vê. Ou melhor, como você não se enxerga.
Tem dias em que você se olha no espelho e tudo o que consegue ver são defeitos. Se compara com outras mulheres. Se sente insuficiente. Diminui as próprias conquistas. Desacredita da própria beleza. E acredita, lá no fundo, que nunca será “o bastante”.
Mas deixa eu te contar algo de maneira cuidadosa: essa mulher incrível que talvez você enxergue nos outros, talvez seja você, só que ainda não reconhecida.

Quando a crítica interna é um eco do passado
Na psicanálise, compreendemos que o modo como nos vemos é profundamente influenciado pelas experiências da infância. Especialmente as marcadas por afeto condicionado, exigências afetivas, ausência de validação e rupturas na construção da autoestima.
Você pode ser elogiada, reconhecida, amada. Mas nada disso parece entrar. Porque existe uma voz aí dentro que sempre diz:
“Não fiz o suficiente.”
“Não sou tão bonita assim.”
“Não sou tão inteligente quanto acham.”
“Eu só dei sorte.”
Essa voz crítica não nasce do nada.
Muitas vezes, ela é o eco de falas escutadas ou da ausência delas em momentos formadores da sua história. Ela é um sintoma. Um reflexo de uma construção emocional marcada por traços de trauma.
Trauma não é só o que grita.
É também o que se repete em silêncio
Nem sempre o trauma é feito de eventos extremos. Às vezes ele se manifesta como pequenas ausências, como olhar que não se detém, como afeto que depende de desempenho.
Na clínica psicanalítica, observamos que essas marcas precoces formam estruturas psíquicas de autoimagem distorcida. É como se houvesse uma lente emocional que impede a pessoa de se enxergar com verdade.
Por isso, a comparação constante, a necessidade de aprovação e a sensação de não ser suficiente não são vaidades. São estratégias psíquicas de sobrevivência, muitas vezes inconscientes.
O sofrimento psíquico também mora no espelho
Quando você se mede pela régua dos outros, sempre vai parecer pequena. Porque sua referência de valor está projetada para fora. E isso também é efeito de uma construção subjetiva ferida.
A comparação te afasta de si. E te impede de ver a mulher real, forte, sensível, em construção que você é.
Fé que devolve identidade
A fé não vem pra apagar suas inseguranças com frases prontas. Mas ela pode sustentar o processo de se reconstruir. De lembrar que você é mais do que aprendeu a acreditar. Que existe um olhar mais amplo sobre você, um que não é baseado em méritos, mas em essência.
Deus não errou nos seus traços. Nem nas suas emoções. Nem no tempo que você leva pra crescer. Você é obra em andamento, e já é amada assim.
Como começar a se ver com mais verdade
Reconheça a origem do seu olhar. De onde vem sua voz crítica? Quem te ensinou a se enxergar assim?
Dê espaço para outras narrativas. O que outras pessoas reconhecem em você que você insiste em negar?
Busque escuta especializada. A terapia não é mágica. É mergulho. É travessia. É reencontro.
Seja intencional ao orar. Fale com Deus sobre como tem se sentido, mesmo que não saiba onde isso começou, e pra que Ele lhe ajude a se enxergar com verdade.
Ver-se também é um processo de cura
Você não precisa esperar se tornar perfeita pra se enxergar com dignidade.
A sua história pode ter deixado marcas. Mas também deixou caminhos.
E reconhecer esses caminhos é parte do processo de reconstrução psíquica.
A mulher incrível que você busca já existe em você. Talvez apenas precise ser vista com um novo olhar. Um olhar sem exigência, sem lente distorcida, sem eco de dor.
Você está se tornando.
E isso já é belo.
Selah.
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