A ternura como força
- Fernanda Gregório Fonseca

- 30 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de nov.
Vivemos em um tempo em que ser doce parece um risco. Como se o mundo só respeitasse quem levanta a voz, quem impõe, quem se protege antes mesmo de ser ferido. Mas há algo profundamente verdadeiro em quem ainda escolhe a ternura; não por ingenuidade, mas por consciência. Porque ser terno, quando o mundo é duro, é um ato de resistência silenciosa.
Há quem confunda ternura com fraqueza.
Mas a ternura não é ausência de força; mas considero força em seu estado bruto, domada.
É o poder que não precisa provar, o amor que não precisa vencer, o olhar que acolhe sem precisar controlar.

A força que vem do sensível
Desde cedo, muitos de nós aprendemos que sentir demais era perigoso. Choramos e ouvimos: “engole o choro”. Sofremos e escutamos: “seja forte”. E crescemos acreditando que ser forte era não sentir.
Mas a verdadeira força nasce justamente do contrário; da permissão de sentir. Da coragem de permanecer humano quando o mundo pede couraça.
Na clínica, vejo almas exaustas de carregar armaduras desajustadas, que são maiores do que elas próprias; que por vezes elas vêm arrastando desde a infância, que já não protegem, só pesam.
Pessoas que, ao tentarem ser firmes demais, perderam o acesso à própria doçura.
E é bonito quando, depois de tanto endurecer, alguém enfim desarma o peito e descobre que ser sensível não era o problema; era a cura.
A ternura como maturidade
Li uma vez um texto que dizia que só o ego maduro consegue ser gentil. Porque é preciso estar inteiro para oferecer cuidado sem se anular. A ternura não é diminuição, é presença. É firmeza com alma.
A ternura é a força que não agride. É o poder de sustentar sem esmagar, de orientar sem dominar, de amar sem aprisionar.
É quando a força já não precisa do grito para ser ouvida. Quando o amor já não teme ser frágil, porque sabe que está enraizado. A psique e o toque suave
Na linguagem simbólica, a ternura é um toque que cicatriza sem abrir feridas. Ela aparece quando o ego não precisa mais se defender o tempo todo. É um sinal de confiança; em si, no outro e na vida.
Freud falava que a capacidade de amar é uma das maiores realizações do desenvolvimento humano.
E amar ternamente é o estágio mais alto dessa capacidade: é amar com inteireza, sem exigir retorno.
É o amor maduro, o amor que não é carência disfarçada, mas presença consciente.
A metáfora da criação
A ternura é a linguagem de Deus O mundo foi feito por palavra (imagino eu que com palavras de força); mas sustentado por cuidado. A voz que ordenou o mar também modelou o barro com as mãos. A mesma força que abriu os céus também soprou um fôlego sobre o pó.
É assim que Deus nos ensina sobre poder: o poder que protege, não o que oprime. E talvez a verdadeira força espiritual esteja justamente aí; em continuar amoroso, mesmo quando tudo pede endurecimento.
Porque quem aprendeu a ser terno, não perdeu a força; apenas descobriu a que vale a pena usar.
Selah.
Por Fernanda Gregório Fonseca
Referências
Meu pensamentos, E claro...
Winnicott, D. W. (1965). The Maturational Processes and the Facilitating Environment.
Freud, S. (1923). The Ego and the Id.
Fromm, E. (1956). The Art of Loving.
Nouwen, H. (1992). The Inner Voice of Love.
.png)












Comentários