Relações que repetem o que feriu
- Fernanda Gregório Fonseca

- 10 de jul.
- 2 min de leitura
Entre o medo de ser rejeitada e o hábito de se anular
Nos textos anteriores, falamos sobre o cansaço emocional, a autossabotagem, o vazio silencioso e a distorção da autoimagem. Hoje, é hora de falar sobre o que tudo isso constrói quando se trata de relações: o quanto algumas histórias moldam vínculos onde você se apaga para ser aceita.
E talvez você já tenha vivido isso, ou ainda esteja vivendo.
Você diz sim quando queria dizer não. Cede para manter a paz. Se cala para não ser vista como exagerada. Engole a mágoa, o incômodo, a frustração. E lá dentro, fica uma pergunta sussurrando: “será que, se eu for eu mesma, ainda vão me amar?”

A origem da anulação: feridas que ensinam a sobreviver
Na psicanálise, aprendemos que muitas dinâmicas relacionais adultas são repetições inconscientes de padrões aprendidos na infância. Principalmente quando a criança aprendeu, cedo demais, que amor vinha com exigências.
Se você cresceu em um ambiente onde precisava ser boazinha, forte, prestativa ou impecável para ser notada, talvez tenha internalizado a crença de que precisa merecer afeto.
E essa lógica silenciosa de que ser quem você é pode afastar as pessoas, te acompanha nos vínculos afetivos. Amigos, parceiros, líderes, colegas. Você se adapta, se molda, se apaga.
Anulação não é escolha. É proteção emocional
Anular-se não é um ato consciente de submissão, é uma tentativa psíquica de manter vínculos, mesmo que às custas da própria verdade, é o medo da rejeição vestido de obediência emocional.
A pessoa não se anula porque quer.
Ela faz isso porque, em algum momento da vida, aprendeu que ser inteira pode ser perigoso.
Que expressar limites pode causar afastamento.
Que ocupar espaço pode gerar abandono.
Quando a fé vira cobrança, e não abrigo
Às vezes, até na espiritualidade, essa lógica se instala. Você acredita que precisa sempre servir, ceder, calar, se doar… mesmo quando tudo em você está exausto.
Mas Deus não te chama para se perder nos outros. Ele te chama pelo nome. E conhece as suas emoções até aquelas que você não ousa dizer em voz alta.
Fé não é apagar a si mesma.
É reencontrar quem você é, com coragem e verdade.
Como começar a se relacionar sem se anular
Observe os padrões. Quais vínculos exigem que você se diminua? Há repetição?
Nomeie seus limites. Ainda que com medo. Ainda que tremendo. Dizer não é um ato de saúde emocional.
Reconheça as raízes. Que experiências formaram sua crença de que precisa agradar pra ser amada?
Busque ajuda terapêutica. Relações baseadas em medo não se rompem à força, mas se transformam com consciência.
Ore com verdade. Deus não exige sua negação. Ele acolhe sua autenticidade.
Você pode ser amada sem se esconder
Esse medo de rejeição não precisa comandar sua vida. Essa autoanulação não precisa ser o preço do afeto. Você pode existir inteira. Pode ter opinião. Pode discordar. Pode dizer sim e não. E ainda assim, ser amada.
Seu valor não está no quanto você cede, mas no quanto você se conhece.
Você não é peso. Nem exagero. Nem demais. Você é inteira. E merece vínculos onde sua inteireza seja bem-vinda.
Selah.
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