Por que me cobro até no silêncio?
- Fernanda Gregório Fonseca
- 2 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de jul.
Silêncio deveria ser abrigo. Mas, para muitas de nós, ele se transforma em campo de batalha.
Há um tipo de cansaço que não vem do que fazemos, mas do que pensamos enquanto deveríamos estar descansando. A mente não desliga. O coração continua em alerta. E, mesmo na pausa, nos cobramos por não estar produzindo, sentindo "certo", reagindo da forma "esperada".
Esse texto é para você, mulher que sente demais. Que se analisa o tempo todo. Que, mesmo quando tenta descansar, ouve uma voz interna dizendo que poderia estar fazendo mais, sendo mais, sentindo menos. É sobre o silêncio que virou cobrança, e sobre como começar a transformá-lo em presença.

A origem da autocobrança silenciosa
A cobrança constante nasce da forma como aprendemos a amar e ser amadas.
Muitas de nós, desde muito cedo, foram recompensadas quando "acertavam". Quando eram úteis, maduras, controladas. Aprendemos que demonstrar emoções era um risco, que ser vulnerável era sinônimo de fraqueza.
Com o tempo, nos tornamos mulheres adultas com uma criança interna hiper vigilante, tentando o tempo todo "merecer" espaço, aceitação, amor. A cobrança constante não é arrogância, é medo. Medo de não ser suficiente. Medo de, ao silenciar, perder o valor.
É nesse ponto que até o descanso vira dívida. A pausa vira abandono. E o silêncio... um lugar perigoso demais para habitar.
A mente barulhenta na hora da pausa
Quantas vezes você já se pegou deitada, em silêncio, mas com o pensamento disparado?
"Será que eu fiz certo naquela conversa?"
"Por que estou me sentindo assim, se nem aconteceu nada?"
"Eu deveria estar agradecendo, e não sentindo isso."
"Deus deve estar me achando ingrata."
Essa lista poderia seguir por parágrafos.
O que acontece aqui é uma confusão entre pausa e improdutividade. Entre silêncio e culpa. Entre desacelerar e ser inútil.
E, muitas vezes, esse padrão vem de uma espiritualidade mal interpretada, onde descanso emocional é confundido com negligência, e silêncio com ausência de fé. Quando, na verdade, o próprio Jesus fazia pausas. Ele silenciava, se retirava, descansava... e isso também era santo.
Quando a fé também cobra demais
Talvez você já tenha ouvido que "precisa confiar mais" ou que "quem tem fé não se abala". Mas essas frases, embora bem intencionadas, muitas vezes geram ainda mais culpa.
A fé, quando genuína, não anula a nossa humanidade. Ela acolhe.
Ela nos convida a lançar sobre Deus as nossas ansiedades. Não a ignorá-las.
Ela nos permite dizer: "Eu creio, mas ainda estou cansada." Ou: "Eu confio, mas hoje preciso chorar."
A fé que cura não é a que te exige perfeição. É a que sustenta mesmo quando tudo em você parece frágil.
A pausa, nesse contexto, não é ausência de fé. É um ato de confiança.
É dizer: "Eu não preciso me provar agora. Eu posso apenas existir."
O que o silêncio pode ensinar
Silenciar, quando feito com presença, pode ser um lugar de revelação.
É nele que escutamos o que o barulho da rotina esconde. É nele que reencontramos nossos limites, nossas carências, nossos desejos mais verdadeiros.
Mas, para muitas de nós, silenciar dói. Porque no silêncio não há distrações. E tudo o que reprimimos vem à tona. Por isso, precisamos aprender a entrar nesse espaço com delicadeza.
Aqui vão alguns passos terapêuticos e espiritualmente saudáveis para fazer isso:
Nomeie o que você sente. Se o silêncio te angustia, não fuja dele. Dê nome. "Estou ansiosa." "Sinto culpa por parar." "Tenho medo de parecer fraca."
Pratique pausas curtas com intenção. Comece com 2 minutos por dia. Respire, feche os olhos. Permita que o mundo pare dentro de você, mesmo que só por instantes.
Não tente entender tudo. Algumas dores não precisam de análise imediata. Elas precisam de espaço. De escuta. De tempo.
Ore como quem desabafa. Fale com Deus como você é, não como você acha que deveria ser. O silêncio também é oração quando vem do coração cansado.
Escreva. Colocar no papel aquilo que está emaranhado por dentro pode aliviar. Uma frase, uma pergunta, um desabafo. Tudo conta.
Transformando o silêncio em abrigo
Você não precisa performar paz, nem provar equilíbrio. O silêncio não precisa ser um lugar onde você se corrige. Pode ser um lugar onde você se reencontra.
Selah é sobre isso: um intervalo sagrado. Uma pausa entre o sentir e o calar. Um espaço onde você pode simplesmente ser.
Na próxima vez que o silêncio vier carregado de cobrança, lembre-se. Não é o momento de se julgar. É o momento de se acolher.
Respira!
Você não precisa merecer descanso.
Você já é amada mesmo em silêncio.
Selah - By Fernanda Gregório Fonseca.
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